O Sleeve Gástrico, ou gastrectomia vertical, tem-se afirmado como uma das técnicas mais utilizadas na cirurgia bariátrica. É minimamente invasiva e eficaz na perda de peso, especialmente em pessoas com obesidade grave ou doenças metabólicas associadas. Mas uma dúvida muito comum entre os pacientes (ou quem está a pensar fazer a cirurgia) é se quem realiza o Sleeve Gástrico pode voltar a engordar.
A obesidade é uma doença crónica, multifatorial e recidivante. Como qualquer outro tipo de tratamento / cirurgia, o Sleeve Gástrico também pode apresentar casos de insucesso. Desde logo, existe uma pequena percentagem de doentes que não perde o peso esperado após a cirurgia (não respondedores) e, a longo prazo, outra parcela que volta a ganhar peso. Esta recidiva ponderal ocorre em cerca de 15 a 20% dos casos, independentemente do tipo de cirurgia bariátrica realizada.
No entanto, considerando a natureza crónica da obesidade, é essencial compreender que, diante da estabilização ou do reganho ponderal, pode ser necessário recorrer a outras estratégias (exploradas, de seguida, neste artigo) para alcançar os resultados desejados, seja na perda de peso ou no controlo das doenças associadas.
O que é o Sleeve Gástrico?
O Sleeve Gástrico é uma cirurgia que remove parte do estômago, reduzindo significativamente a sua capacidade. O novo estômago, com um formato tubular, passa a comportar entre 60 a 100 mL. Isso traduz-se numa redução da ingestão alimentar e numa diminuição do apetite, já que parte das células que produzem grelina (a “hormona da fome”) são também removidas.
A cirurgia é realizada por laparoscopia, o que significa uma recuperação mais rápida e menos dor no pós-operatório. Muitos pacientes têm alta no dia seguinte e podem retomar a maioria das atividades em poucos dias, com algumas restrições
Porque é que algumas pessoas voltam a ganhar peso após o Sleeve Gástrico?
Como mencionado na introdução, a obesidade é uma doença crónica, multifatorial e recidivante, o que significa que não existe uma “cura definitiva”. Tal como acontece noutras doenças crónicas, podem existir recaídas ao longo do tempo. Apesar dos excelentes resultados que o Sleeve Gástrico oferece na perda de peso, alguns pacientes podem voltar a ganhar peso, especialmente se não houver uma adaptação consistente e duradoura ao novo estilo de vida. Mas afinal, porque é que isso acontece?
1. A cirurgia é apenas o início do processo
O Sleeve Gástrico é uma excelente ferramenta, mas o sucesso contínuo depende da adoção de hábitos saudáveis. Alimentação equilibrada, prática regular de exercício físico e apoio psicológico são pilares fundamentais no processo.
2. Fatores individuais
Cada paciente responde de forma diferente. Alguns não atingem a perda de peso esperada, mesmo cumprindo as orientações — são os chamados “não respondedores”. Outros perdem peso inicialmente, mas têm dificuldade em manter os novos hábitos com o passar do tempo.
3. Dilatação do estômago
Com o tempo, o estômago pode dilatar ligeiramente, especialmente se houver consumo regular de grandes volumes ou alimentos calóricos e de rápida digestão (doces, refrigerantes, fritos). Essa dilatação pode aumentar gradualmente a capacidade gástrica, favorecendo o aumento de peso.
O que fazer se houver reganho de peso?
Caso ocorra estabilização ou reganho de peso após o Sleeve Gástrico, é essencial agir o quanto antes. O acompanhamento precoce permite identificar as causas e definir estratégias eficazes para recuperar o controlo do peso.
Entre as principais abordagens estão:
- Revisão e reajuste do plano alimentar, com o apoio de um nutricionista especializado em cirurgia bariátrica;
- Implementação de um plano de exercício físico personalizado, adaptado à realidade e capacidade de cada paciente;
- Apoio psicológico, fundamental para compreender padrões de comportamento alimentar e lidar com possíveis gatilhos emocionais;
- Utilização de medicação, quando clinicamente indicada, como suporte à perda de peso e ao controlo do apetite;
- Reavaliação cirúrgica, em casos específicos, podendo ser considerada a conversão para outro procedimento, como o Bypass Gástrico.
O que esperar da perda de peso com o Sleeve Gástrico?
A perda de peso após a cirurgia é variável e depende de diversos fatores, como idade, peso inicial, nível de atividade física e adesão às recomendações médicas. Em termos gerais, a cirurgia é considerada bem-sucedida quando há uma perda de peso sustentada e melhoria das doenças associadas.
Durante as consultas, a equipa médica poderá traçar metas realistas e individualizadas, ajustadas ao perfil e objetivos de cada paciente.
O Sleeve Gástrico como início de uma nova fase
Fazer o Sleeve Gástrico não é uma garantia absoluta de que o peso perdido será mantido para sempre. No entanto, quando inserido num plano completo de tratamento com acompanhamento médico, nutricional e psicológico, torna-se uma ferramenta altamente eficaz no controlo da obesidade e na melhoria da qualidade de vida.
Mais do que uma solução imediata, é o início de uma mudança profunda, contínua e duradoura.
Por isso, assumir o compromisso com um novo estilo de vida e manter o apoio da equipa multidisciplinar são fatores decisivos para alcançar e manter os resultados desejados a longo prazo.
A luta contra a obesidade continua após o Sleeve Gástrico
O Sleeve Gástrico é um passo importante no processo de emagrecimento e no tratamento da obesidade, mas não é um ponto final, é o início de uma jornada contínua de mudança e compromisso!
Para manter os resultados alcançados com a cirurgia, é essencial adotar e manter hábitos de vida saudáveis, como uma alimentação equilibrada, prática regular de atividade física e acompanhamento médico e psicológico ao longo do tempo. Embora o reganho de peso possa acontecer, ele não é uma regra. Na maioria dos casos, pode ser evitado com medidas preventivas e com o apoio certo.
A obesidade é uma condição crónica, mas com dedicação, acompanhamento e suporte multidisciplinar, é possível manter o peso saudável a longo prazo e viver com mais qualidade, energia e bem-estar.
Perguntas Frequentes
Quanto tempo depois da cirurgia o peso pode voltar a aumentar?
O reganho de peso pode ocorrer meses ou anos após a cirurgia. A maioria dos casos acontece quando os bons hábitos iniciais vão sendo abandonados gradualmente.
O que causa o reganho de peso?
Fatores como alimentação desequilibrada, sedentarismo, falta de acompanhamento médico ou psicológico e até alterações hormonais podem contribuir.
É possível voltar a perder peso se houver reganho após o Sleeve Gástrico?
Sim. O reganho de peso pode ser revertido. Com o acompanhamento certo, seja nutricional, psicológico, médico ou, em alguns casos, cirúrgico, é possível retomar o controlo do peso e voltar a progredir no processo de emagrecimento.
E se o Sleeve Gástrico não resultar como esperado? Posso fazer outra cirurgia?
Sim. Quando o Sleeve não atinge os resultados desejados, mesmo com o acompanhamento adequado, pode ser considerada a conversão para outro tipo de cirurgia bariátrica, como o Bypass Gástrico. Esta decisão é sempre tomada após avaliação clínica individualizada, em conjunto com a equipa multidisciplinar.
Especialista em Cirurgia Bariátrica
O Dr. José Pedro Pinto é especialista em Cirurgia Geral, com Mestrado Integrado em Medicina pelo Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto. Após terminar o internato da especialidade, em 2019, trabalhou 3 anos na Unidade de Cirurgia da Cabeça e Pescoço e, desde 2021, pertence à Unidade de Tratamento Cirúrgico de Obesidade (UTCO) – ULS Braga – equipa que realiza entre 250 a 300 procedimentos de cirurgia bariátrica anualmente.
Acumula 10 anos de experiência cirúrgica com especial destaque na patologia Endócrina e Cervical (tiróide, paratiróide, suprarrenal, glândulas salivares, lesões congénitas do pescoço) e Cirurgia Metabólica e Bariátrica. Desde o internato, desenvolveu competências em cirurgia laparoscópica avançada, que continua a exercer de forma eletiva e em contexto de urgência.
Interessado na área do trauma, integra o Grupo de Trabalho da Via Verde de Trauma do Hospital de Braga desde 2023 e é formador sénior do International Trauma Life Support. Entre muitas formações realizadas na área, destaca-se o particular interesse no desenvolvimento da aplicação da Point of Care Ultrasonography, sendo actualmente formador e coordenador do curso avançado E-FAST da PocusX.
Autor e co-autor de múltiplas comunicações científicas, quer em revistas científicas, quer em congressos e reuniões científicas nacionais e internacionais, sendo de sublinhar o reconhecimento internacional obtido em 2022 com atribuição de uma distinção pela International Federation for the Surgery of Obesity and Metabolic.
É membro das seguintes sociedades científicas: Sociedade Portuguesa de Cirurgia, Sociedade Portuguesa de Cirurgia da Obesidade e Doenças Metabólicas, European Society of Endocrine Surgeons, International Federation for the Surgery of Obesity and Metabolic, International Association of Surgeons Gastroenterologists and Oncologists.
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